domingo, 26 de dezembro de 2010



E é isso. Tomo posse de tuas palavras. Aliás, de teus pensamentos, porque apesar de não pronunciares tais fatos, eu sei que é isso. Sei que iremos nos envolver em tudo isso, nessa história de beijos e abraços que me afogam sem piedade e sem pudor, mas que por fim não nos levarão a lugar algum.
Então demonstra-me teu último gesto de carinho. Pois sei que essa imensidão toda por ti permanecerá pra sempre. Mas que encontrar-me em paz enquanto me abraças na tentativa de proteger-me do mundo nunca mais ocorrerá. Nunca ocorreu.
A gente só precisa de paz, entendeu?
Porque sei que enquanto meu coração se contrai loucamente, na tentativa de encolher-se e não mais ser maltratado, tu se vais. E me deixa com esse sorriso insensato pairando pela alma, porque de todo o meu esforço em fazer-te entender o que aqui ainda habita, a única parte que possivelmente tocou-te foi se toda aquela história cósmica sobre o destino chegou até teus ouvidos, sussurrando meu nome, ou ao menos o ruído de uma risada que certo dia demos juntos.
E então vai-te com serenidade. E espero que leves contigo esse meu último gesto de afeto, esse meu beijo na testa, esse sorriso final.
Porque de ti, por mais que não demonstres, posso sentir teu beijo apressado com o corpo já indo embora, como quem tem muito a fazer e pouco tempo para esperar pela vida, soltando minha mão devagar como num gesto que me diz "adeus e, obrigado por um dia ter me amado".

domingo, 5 de dezembro de 2010

Habitantes de Uma Terra Solitária

E nem é tão difícil assim. Ninguém aqui tem porta trancada à sete chaves, o segredo do meu cofre é fácil, fácil. Mas verdadeiro ele é. Não inventei combinações mirabolantes de números importantes da minha vida, sem essa de data de aniversário, dia do primeiro beijo ou últimos dígitos do número do telefone da minha casa. Vai além. E o além é tão mais fácil pra quem pode. É só sorrir pra mim. Sorri com a alma, com os olhos de quem realmente vê, como quem entrega um frasco com a essência do próprio coração num gesto sem esforço. Eu retribuo sem hesitar. Minha chave é tão ingênua e bonita quanto o segredo que ela carrega. E pra quem souber encaixá-la corretamente na fechadura, eu sorrio como quem diz: "O que de mim se faz, de ti se fará, e dessa forma, eu sou aquela que você vê dentro de ti próprio."
Tudo. Tudo habita em mim, habita em você

terça-feira, 13 de julho de 2010

Na verdade quem eu sou...

Te compararão à tudo. Colocarão adjetivos ao teu lado para ver se combinam entre si, dirão certas frases para refletirem se é possível ver-te dizendo-as, se estas cabem dentro de sua boca e de sua alma. Certamente colocarão em prática alguns verbos para ver como reages diante destes e silenciosamente perceberão quais outros verbos se utilizará para revidar. E, ao final de tudo é possível que não cheguem a nenhum parecer, que não consigam desvendar nada sobre ti, se é que este era o intuito de tanta investigação.
Porque ser humano pode parecer banal, mas é tão difícil como não ser. Compreender-se por si só é, de fato, fundamental para saber jogar limpo consigo mesmo, mas nunca foi por dentro que o ser humano se bastou. Sempre foi por fora, sempre será. Porque o que o outro vê de imediato é tudo aquilo que pensas conhecer e saber como controlar, mas que no fundo é o que acaba sendo o mais desconhecido tanto para quem vê quanto para quem é. E isso é o que temos por fora e não conseguimos entender. É isso que, entre caras e bocas premeditadas na intenção de agradar teu interlocutor, se desprende do nosso controle, vai parar imediatamente dentro dos olhos daqueles que estão nos investigando e TCHUM! Aí já foi. Já mostrastes, mesmo sem nem perceber, uma de tuas fraquezas, belezas ou inquietações. Já fizestes o outro conhecer, mesmo que um pequeno pedaço, uma parte de ti que nem mesmo você sabe como controlar e entender.
Por isso me desprendo de convicções e auto conhecimentos. Não por serem banais, mas por estes nos trazerem a agradável sensação de acharmos que conhecemos cada pequeno milímetro de nossa alma (e se não conhecemos, viríamos a conhecer), sendo que isto é irreal. Quando menos se espera uma parte de ti que tu nem imaginavas existir se extrapola e sai voando direto de teu peito e pousa na cabeça de alguém. E só Deus sabe como isso acontece. Só Deus.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

"Prefiro um copo vazio a me contentar com meio copo cheio..."

E foram dias. Dias de puro encontro. Satisfação, dias sonhados, cansaço alegre. E ainda são tais dias, mas sempre há uma pausa. Uma pausa para um dia vazio, sorrateiro, manhoso como gato que me pede atenção e um pires de leite.
E nesse dia vazio não serei de ninguém. Não serei de mim mesma, me faltarei e faltarei com as minhas obrigações. Talvez me bata uma sensação culposa, um receio de estar falhando com tudo que me é tido como dever, mas o vazio se torna maior do que qualquer outro sentimento que eu possa ter.
E eu me afogo nesse vazio. Caio e não acho onde me apoiar, não encontro mão para me segurar. Sensação estranha. Estranha porque não me desconforta, mas sim, me alivia e me deixa com um sorriso esquisito esboçado, estranha porque percebo que o vazio não me incomoda mas me traz uma paz que quando se fecha os olhos, faz a gente enxergar mais do que podemos ver. É assim comigo. Deveria ser assim com você. Porque se eu soubesse que também se sente assim, seria mais bonito. Me traria mais inspiração, transformaria mais coisas em poesia. E é disso que eu gosto. Dessa magia encantada, inalcançável, inexistente. Porque de realidade já basta a vida que eu vivo, já basta a racionalidade que baquea todos os castelos que construo para mim. Então se te tornas vazio para mim, junta-se com a minha fantasia e torna tudo mais livre, mais vívido. Porque da junção de nossos vazios eu posso transformar-te em um campo verde, plano e lindo que me inspira a ponto de poder girar e girar de braços abertos sem perder o equilíbrio e a sanidade. Sem me preocupar com a noção do que é correto para alguém adulto fazer, sem pensar em me abster de girar e rir, perder o foco e cair, porque cair é perigoso e arriscado. Porque se caio sob nossos vazios, nada me machucará, não estatelarei no chão. É vazio, não há chão. Não há chão, não há teto, não há céu, nem inferno. Não há nada. É meu vazio. É teu vazio, é o nosso vazio irreal no meio de uma realidade racional feliz, mas que apesar de satisfatória, continua sendo real. E isso por si só se torna chata, se torna meramente... real.
Mas se não vens comigo, não há problema. Talvez tua presença preenchesse meu vazio e toda essa sensação iria embora e nada disso que se encontra aqui, agora, me faria feliz. Só tua presença. Me acostumaria com o todo cheio e não entenderia a graça de cair sem me machucar. E isso eu não quero. Não agora. Deixa pra depois. Outro dia, quem sabe. Outro ano, talvez. Outra vida, jamais.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

"Eu tenho a porra do Amor, Merda!"

Merda. De certa forma a palavra que mais me vem à mente nos últimos momentos é "merda". Simplesmente tem hora que você pensa que deu merda, que tudo virou merda, que merda. Por alguns momentos você pensa na "bosta" toda também, mas a "merda" sempre volta.

E você pode ter feito a merda. Ter feito a merda de ter investido naquele negócio que te fodeu as economias, ter feito a merda de beber demais na noite passada, ter feito a merda de se apaixonar, ter feito a merda de falar o que não devia. Mas às vezes a merda simplesmente vem.

Num belo dia de sol você está dirigindo toda feliz e cai aquele monte de bosta em cima do seu pára-brisas, atrapalhando toda sua visão. Se alguém jogou, se o destino fez alguém cagar ali na exata hora em que você passava ou se Deus resolveu sujar tua vida não importa. O que importa é que aquele monte de fezes tá ali e você precisa fazer algo para limpar.

E olha, vou ser sincera. Se ela só te atrapalhasse a visão seria simples, mas essa merda fede. Ela fede, impregna em tudo que toca, suja e te deixa enojado por um bom tempo. E isso mexe com teus sentidos, com a tua sanidade. Mexe porque você não consegue pensar em mais nada do que limpar aquela merda toda logo pra poder voltar a dirigir e seguir tua viagem.

E é nessa hora que o mais difícil se torna manter-se consciente. Manter-se consciente para poder pensar racionalmente no que se pode fazer para sair dessa situação de merda, desse monte de bosta. Pode demorar dias, meses, anos, nunca chegar, te fazer chorar, ensandecer, alucinar, cegar. Mas se você encontrar uma saída, certamente limpará tudo sem deixar nenhum resquício que afete qualquer fator sensorial em ti.

E se para você anda difícil achar a saída, eu lhe digo o que eu tenho pensado. Eu tenho pensado constantemente: "Eu tenho a porra do amor, Merda!". O amor. Sim, eu o tenho. Eu o tenho e lhe digo que ele existe, que ele é bom, que ele é belo, que ele lhe enche de vontade e esperança. Eu o tenho e posso lhe garantir que todo o clichê que o ronda é real, é mais palpável do que imaginamos, e que é só saber reconhecê-lo. Eu tenho o amor que me acolhe quando eu preciso, eu tenho o amor que me faz lutar por causas irremediáveis a fim de felicitar aqueles que eu amo. E eu tenho o meu amor por mim, o amor que me faz crer que tudo aquilo que eu exerço deve me beneficiar, que tudo aquilo que eu quero me fará sentir tudo que é possível.

E para mim o amor e a merda se relacionam nitidamente. Às vezes o amor é uma merda, a merda de tudo é um amor, às vezes o amor se transforma em merda e a merda se acaba pelo amor.

E por fim pense nos dois no sentido mais literal imaginável. Mentalize o amor como o coração vermelho carnudo com voltinhas bem arredondadas e a merda como aquela merda bem merda, que você sente o cheiro do outro lado da rua, que é visível até para quem passa a quilômetros de distância dela. Tente misturar os dois e perceba o quão incompatíveis são. Percebeu? É por isso que por mais relativos que possam ser, não os misture. Separe a merda do amor, veja o amor como fuga para a merda e, se assim desejar, veja o contrário também. Sinta como é importante se salvar de alguma forma de uma delas através da outra e entenda que, o amor sem a merda nunca seria valorizado e, pra quem está na merda e não tem amor... Se prepara que pra ti, o negócio vai feder. Por um bom tempo.

sexta-feira, 26 de março de 2010

"Mas por hoje não me peça um sorriso..."

Um ano. Há um ano eu a conheci. Tinha avisado que pensava em nos visitar, mas aí se decidiu por ir embora e retornou após algum tempo com notícias de que estava por perto. Mas, por não saber exatamente a data em que seu vôo sairia ou quando teria dinheiro para bancar uma viagem (afinal, eu não sabia de onde ela iria vir, onde ela morava ou se estava vindo de uma outra parada), chegou repentinamente numa manhã do dia 27 de março de 2009.
Ela me emocionou. Me deixou aos prantos, desolada, inconsciente. Por culpa dela eu mexi em cadáveres, cuidei de quem cuidou de mim por muito tempo, não dormi por noites inteiras, rezei por meses e acendi incensos em busca de paz.
Ela se foi e, apesar de não ter me dado bem com ela e nem esperar que ela ficasse mais, levou consigo um amor e deixou aqui uma saudade. E mais que uma saudade, deixou aqui uma união, um afeto que tinha sido adormecido e o sorriso de crianças pro meu coração.
Por fim, acho que depois de tanta enrolação, ela veio na hora certa. Fez a sua parte, terminou com uma doença que não coube a mim achar culpado, deixou uma ferida que se cicatrizaria lentamente, mas de forma serena e compreensiva.
Em diversos momentos me pego pensando quando ela virá nos visitar novamente.Parece que tem mandado seus sinais por muito tempo já e, mesmo nós aqui, estamos esgotados. Esgotados porque quando algo está errado e lhe dizem que irão consertar mas sem data estipulada, você espera. Como um armário que não fecha suas portas. Ao saber que irão consertá-lo, você espera pelo marceneiro. Se demorar muito você até esquece, deixa aquela porta aberta e nem liga mais. Mas vira e mexe, na correria que essa vida tem, você bate com a ponta do seu dedinho do pé nela e se lembra daquela maldita visita que o marceneiro faria há algum tempo atrás. E é isso que ela tem feito por muito tempo. Só que ela tem avisado que vem, mas não vem consertar nada. Vem levar embora aquilo que já se está desgostoso por aqui. Mas não se engane, não é tão fácil assim. Ninguém viaja tanto a troco de nada. Como pagamento ela deixa por aqui alguma contas. Tristeza, saudade, dor... São algumas delas. Mas eu sei, por já conhecê-la, que no final ela nos deixa alguma coisa boa. E por este fato eu ás vezes me pego desejando que ela venha logo.
Se eu me sinto mal com isso? Me sinto péssima. Mas eu espero que não vejam como maldade ou falta de coração, eu só peço descanso à todos aqueles que o merecem... Que haja paz ao fechar os olhos. Principalmente para aqueles que não se abrirão mais.




Kyoko, por tudo que plantou, muito amor; Odi, por tudo que viveu, a paz virá.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Dever de casa para os próximos anos da vida: cultivar a irresponsabilidade, deixar a filosofia descansar e resolver se equilibrar na dualidade ou deixar a corda te derrubar para um dos dois lados, ficar em cima do muro já não será mais aceitável;
evitar ao máximo as consequências da vida que podem ser descartadas, como olhos inchados, cansados e demasiadamente salinos, rostos cansados, olheiras profundas, músicas desgostosas, dias sem canto, noites sem sonhos, dias sem sonhos, noites sem sono, dias sem sono. E, caso todos os itens citados anteriormente fatalmente ocorram, que se saiba explicar o motivo pelo qual estes lhes honram.
Conferir leveza à massa densa da vida, bater a minha clara até ela ficar em ponto de neve, branquinha, levinha e delicada... Sentir o cheiro da conquista diária e saber apreciá-lo sem tentar descobrir qual será a fragância que exalará a batalha de amanhã, saborear o gosto doce da felicidade assim como se sente profundamente o gosto amargo dos problemas, saber sentir o amor... E saber sentir o amor.
Ah! Por último e definitivamente não menos importante: esquecer o medo de... o medo... Aliás, que medo?

sábado, 6 de março de 2010

Carta para quem passou...

Eu estar escrevendo para você depois de quase dois anos te espanta? Não sei explicar, tu me veio a mente e então resolvi te escrever um punhado de palavras que talvez nem irão fazer sentido pra ninguém a não ser a mim mesma.
Como você tem estado? Ás vezes me pego pensando em você, em tudo o que você pode estar fazendo de errado por aí e quantas dores ainda te assolam quando você vai pra casa. Não tenho mais aquele sentimento de tristeza quando tu me vem em mente, ou a vontade de cuidar de alguém pra tentar sanar alguns defeitos passados. Eu tenho quisto cuidados, acredita? Eu, que nunca me dei ao luxo de deixar alguém cuidar de mim, beijar a minha testa e fazer eu me sentir sem as mãos no volante, tenho quisto desesperadamente aprender a ser assim. E eu ando com um medo horroroso da vida. Um medo de tudo isso que está mudando se tornar a coisa mais feia e confusa que eu já pude ser.
E você esperava o que de mim? Uma coragem ínfima de viver, de fazer o que desse na telha como quem prova que a juventude é a época mais bela, fugaz e estúpida de todas, que eu quero consumar toda a minha vida de uma vez sem pensar no amanhã? É, eu sei, quando se trata dessas coisas sempre me vem uma vontade de ser uma dessas pessoas inconseqüentes que preferem tapar os olhos pro futuro a qualquer custo... Assim como você é, isso mesmo. Mas pra mim isso soa tão frágil, sabia? Um dia eu te admirei acho, quis agir assim como você age, mas não dá... Não sei se você me entende, simplesmente não dá. Ou eu sou forte, ou eu sou fraca demais pra isso... Mas eu nunca fui previsível, não é mesmo? Ultimamente eu tenho acordado diferente todos os dias e com uma capacidade de oscilar incrível, você que um dia me conheceu doce e cuidadosa e depois me viu desbocada e sedenta entenderia o que eu quero dizer se colocasse tudo o que nos aconteceu dentro de um período de três dias. Pois é, imagina a loucura que eu ando vivendo dentro de mim. E as pessoas ainda têm me cobrado sair pra encher a cara, dançar a noite toda e conhecer pessoas que irão fingir estarem interessadas no que você diz só pra tentarem te comer no final das contas. E eu ando tão carente de atenções. Daquela atenção besta, de alguém que te procura só pra saber como você está, como anda a vida... Eu tenho passado por muitas situações diferentes, sabe, tenho tido muito o que contar e pouca gente pra me ouvir... Mas sei lá, é da vida, eu nessa de aprender a precisar dos outros não consigo entender de onde vem toda essa minha nova fragilidade.
Mas enfim, eu vou terminando por aqui. Só lhe escrevi porque achei que seria benéfico para mim, mas se quiser responder e me contar como anda tudo do seu lado do mundo, eu teria a honra de ler. Acho que por fim eu vou aceitar aqueles convites pra sair a noite e esvaziar um pouco a cabeça. De qualquer modo estar sozinha com um monte de gente acho que será mais fácil do que estar sozinha comigo mesma, eu tenho sido um real perigo à minha sanidade mental e, uma coisa eu lhe digo: mais louca eu não fico!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Faz-se carreto.

O tempo pra mim não é um só. Ele é feito de vários tempos e assim como pedacinhos retalhados de papel, cada um tem seu tamanho. E não é engraçado o que o tempo faz? Ele passa e a gente nem o vê, mas está sempre pesando em tudo o que acontece conosco... Dizem, desde os que usam os termos mais complexos até os mais clichês que o tempo cura tudo. Eu não sei se cura, mas que ele tá ali, inserido em algum lugar da fórmula do remédio, ele tá.
Os tempos têm feito descobertas magníficas em mim, ultimamente. A mais nova se utilizou de um tempinho, de um pedacinho quase insignificante de tempo, mas ela veio de um tamanho tão enorme que a maioria das pessoas não acreditariam que esse tempinho conseguiu carregar uma mudança tão grande nas costas.
E engraçado que, assim como o tempo tem me feito perceber onde mudei, agora ele tem me ajudado a perceber onde ainda sou igual.
Li algo de Caio Fernando Abreu que dizia sobre a pena de se ter aprendido a amar menos e a deixar de ter tanta ingenuidade, mas que de certa forma aquilo tudo era bom pois não se pode assim ser para o resto de toda uma vida.
A gente evolui, a gente cresce, a gente vive. A gente vive por muito tempo exageradamente, alguns chegam na moderação e tem aqueles que uma hora só sobrevivem. Um dia eu tive tanto orgulho de ser como eu era, de pensar como eu pensava, de ter o indecifrável dom de pensar tanto em uma coisa que ela chegava a pedir folga e, mesmo assim, quando achava que o trabalho naquela coisa tinha sido terminado e ela estava liberada do pensamento para ser executada, eu no momento final me decidia por realizá-la da maneira como bem entendesse e achasse oportuno na hora. Hoje talvez eu pense diferente. Sinto que penso, sinto que ajo de outra forma, mas se quando meu amanhã for hoje, talvez eu já vá pensar igual.
E no meu hoje de hoje, eu percebi uma coisa que não mudou em mim. O bem querer. Ou o querer bem. Sabe quando uma família está se mudando e todos estão loucos e atarefados tirando móveis dos lugares, encaixotando inúmeros livros infantis, corporativos e de auto-ajuda e há aquele filho que persiste em sentar no sofá e não sair dali até que lhe dê a vontade de fazer isso? Então, esse meu filho teimoso hoje eu apelidei de bem querer. Porque hoje eu quero, quero muito. Mas mais do que querer, eu quero bem. Eu lhe quero bem, eu lhe quero o melhor, eu lhe quero até mais do que eu mesma se for isso tudo aquilo que merece. E eu não consigo sair desse ponto. Acho bom, acho lindo, dá vontade de sorrir com aquele olhinho que aperta um pouco e brilha que é uma beleza. Mas também acho um pouco melancólico, porque quero bem, quero muito e quero pra mim também. E não sei em que parte da história esses dois pontos se coincidem e se fazem harmoniosos dentro da minha cabeça. Pois é, só da minha cabeça... Não se consumiu por inteiro, engraçado né? Atitude realmente inesperada vindo de mim... Essa parte acho que é aquele outro filho que no princípio se entristeceu da mudança, mas agora está tirando os móveis do seu quarto pensando em como rearrumá-los na casa nova. Novinha. Em folha, em fala, em pensamento.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Bem-vinda, mudança!

Hoje não há devaneios. Não tem eu lírico boêmio, palavra de poeta morto ou muito menos concepções devastadoras sobre quem se é, o que se quer e o que é coerente fazer.
Quase um mês. Um mês diferente. Um mês que passou voando mas que ao mesmo tempo trouxe mudanças que refletirão por muito tempo, quem sabe por uma vida inteira...
Pela primeira vez na minha vida eu não tenho me prendido à crenças, entregue nas mãos de qualquer força superior ou me posto em situação de espera quando as coisas pareciam confusas demais. Resolvi que para escrever a minha história, só serão usadas as palavras que eu quero. Hesitei, hesitei muito. Pensei em fugas de mim mesma, busquei caminhos alternativos que não me fizessem indagar tanto sobre tudo que estava acontecendo.
E acho que a grande culpada de tudo isso é a mudança. Mudar é uma coisa forte, às vezes é reflexo de muitos anos, às vezes ela parece que nunca chega e, às vezes você se coloca em stand by por tanto tempo que só quando tudo ao seu redor muda, você percebe que mudou também.
Cheguei a pensar que o nome pra tudo isso é crescer, mas acho que seria muita pretensão da minha parte dizer que cresci, soaria até mesmo como uma auto-promoção.
Eu sei exatamente os pontos nos quais eu mudei e, até poderia citá-los aqui, mas acho-os pessoais demais para se expor sem ser atrás de um eu lírico choramingão (é, talvez esse seja um ponto que eu ainda não tenha mudado).
Me perdi em um mundo novo e revi muitos sentimentos que haviam se distanciado, encontrei a ansiedade no início, parei pra conversar com a euforia por um bom tempo, esbarrei com a confusão e com a tristeza por umas inúmeras esquinas também, é verdade... Mas agora acho que meu caminho tá reto, tá seguindo rumo ao meu futuro e enquanto ando tenho visto as paisagens que eu esperava e sempre quis encontrar. Meu coração tem batido mais forte e revigorado, tem parado de sair do seu ritmo ou até mesmo do meu, minha cabeça não anda mais vazia, isso devo confessar, mas meus pensamentos acho que se auto-adestraram e resolveram se posicionar de modo que eu possa encontrá-los quando bem quiser e adormecer aqueles que teimam em querer aparecer no momento inoportuno.
E se for esse ritmo que eu irei seguir pro resto da minha vida ou pelo menos enquanto deixo meus sonhos perderem esse nome, eu me sinto aliviada. Deve ser por isso que tanto aconteceu de repente. Se ver na situação a qual você almejou por tanto tempo acontecendo, torna tudo tão simples que eu na minha fúria incontrolada por oscilações existenciais não soube lidar muito bem de início. Até eu perceber que tudo isso é só o começo, que a complicação ainda está por vir...
Mas eu estou tranquila, não esquento a cabeça agora não. Sempre tive muito pra doar, sempre quis me encher enquanto esvaziava o que em mim habita de uma forma não tão racional, mas verdadeira. E hoje eu me vejo na situação mais bela e egoísta que já vivi: tenho dado todo amor, toda a paixão que poderia ter à mim mesma, ao meu presente e, principalmente, à tudo aquilo que eu sei que, pode estar longe, mas que um dia fará parte do que eu sou e vice-versa.
E me atrevo de uma forma quase mal-educada a fazer referência mas mudando as visões a uma frase do Caio Fernando Abreu: Cuidado comigo. Um dia eu encontro.
Sei que não foi o texto mais literário que posso ter escrito, mas é um dos quais eu terei mais orgulho de reler daqui há um tempo, tenho certeza disso.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Sinto muito.

Eu sei que sinto. E sinto muito. As pessoas costumam dizer que sentem muito ao ouvir uma má noticia sobre a vida de alguém ou quando cometem algum ato inadequado e querem pedir perdão. Eu não. Eu acho que sinto muito sempre. E não tenho acompanhamentos para o meu sentir, sentir pra mim deve-se bastar em apenas sentir. A palavra em si tem um significado muito forte, muito bonito. Seja alegria, tristeza, raiva, dor, amor ou qualquer tipo de emoção, sentir tem que ser sempre o ator principal. Nós deveríamos nos ater em exercitar o nosso sentir, pelo simples fato de que isso ensinaria muita coisa sobre a vida, sobre quem somos.

Sentir consiste em conseguir tocar uma flor e se deixar levar pela tua leveza, tocar de leve sua maciez e imaginar aquele perfumado veludo tocar teu corpo inteiro, como uma sensação reconfortante de quem se deita e se cobre num dia frio de inverno.

Sentir alguém é saber entrar em contato com a sintonia do outro, entender que sua alma só está completa quando conseguir sentir outras almas e aceitá-las para ti

Sentir é o desejo rápido de saborear algo, alguém ou tudo, é saber apreciar o gosto por aquilo que se tem e tentar saciar sempre a vontade de experimentar novos sabores.

Sentir é reconhecer o cheiro da comida de casa, é sentir um perfume na rua e lembrar-se de antigos amores, é sonhar com lembranças boas de uma vida bem vivida.

Sentir me realiza como pessoa, me faz crer em quem eu sou. Quando me sinto eu sei que posso ir aonde eu quiser, sem me preocupar com o caminho que terei que andar ou quanto tempo demorarei pra chegar lá.

Eu repito que sinto muito. Sinto muito os cheiros, sinto muito os sabores, os sentimentos. Sinto muito você, sinto muito eu. E eu gosto disso.