E nesse dia vazio não serei de ninguém. Não serei de mim mesma, me faltarei e faltarei com as minhas obrigações. Talvez me bata uma sensação culposa, um receio de estar falhando com tudo que me é tido como dever, mas o vazio se torna maior do que qualquer outro sentimento que eu possa ter.
E eu me afogo nesse vazio. Caio e não acho onde me apoiar, não encontro mão para me segurar. Sensação estranha. Estranha porque não me desconforta, mas sim, me alivia e me deixa com um sorriso esquisito esboçado, estranha porque percebo que o vazio não me incomoda mas me traz uma paz que quando se fecha os olhos, faz a gente enxergar mais do que podemos ver. É assim comigo. Deveria ser assim com você. Porque se eu soubesse que também se sente assim, seria mais bonito. Me traria mais inspiração, transformaria mais coisas em poesia. E é disso que eu gosto. Dessa magia encantada, inalcançável, inexistente. Porque de realidade já basta a vida que eu vivo, já basta a racionalidade que baquea todos os castelos que construo para mim. Então se te tornas vazio para mim, junta-se com a minha fantasia e torna tudo mais livre, mais vívido. Porque da junção de nossos vazios eu posso transformar-te em um campo verde, plano e lindo que me inspira a ponto de poder girar e girar de braços abertos sem perder o equilíbrio e a sanidade. Sem me preocupar com a noção do que é correto para alguém adulto fazer, sem pensar em me abster de girar e rir, perder o foco e cair, porque cair é perigoso e arriscado. Porque se caio sob nossos vazios, nada me machucará, não estatelarei no chão. É vazio, não há chão. Não há chão, não há teto, não há céu, nem inferno. Não há nada. É meu vazio. É teu vazio, é o nosso vazio irreal no meio de uma realidade racional feliz, mas que apesar de satisfatória, continua sendo real. E isso por si só se torna chata, se torna meramente... real.
Mas se não vens comigo, não há problema. Talvez tua presença preenchesse meu vazio e toda essa sensação iria embora e nada disso que se encontra aqui, agora, me faria feliz. Só tua presença. Me acostumaria com o todo cheio e não entenderia a graça de cair sem me machucar. E isso eu não quero. Não agora. Deixa pra depois. Outro dia, quem sabe. Outro ano, talvez. Outra vida, jamais.
Um comentário:
Julia julia... a descrição do blog está perfeita.
"Talvez você sempre entenda os textos, talvez entenda ás vezes, talvez nunca entenda."
...rs espero algum dia entender, ou talvez seja fácil, mas a burrice não deixa.
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