sexta-feira, 5 de março de 2010

Faz-se carreto.

O tempo pra mim não é um só. Ele é feito de vários tempos e assim como pedacinhos retalhados de papel, cada um tem seu tamanho. E não é engraçado o que o tempo faz? Ele passa e a gente nem o vê, mas está sempre pesando em tudo o que acontece conosco... Dizem, desde os que usam os termos mais complexos até os mais clichês que o tempo cura tudo. Eu não sei se cura, mas que ele tá ali, inserido em algum lugar da fórmula do remédio, ele tá.
Os tempos têm feito descobertas magníficas em mim, ultimamente. A mais nova se utilizou de um tempinho, de um pedacinho quase insignificante de tempo, mas ela veio de um tamanho tão enorme que a maioria das pessoas não acreditariam que esse tempinho conseguiu carregar uma mudança tão grande nas costas.
E engraçado que, assim como o tempo tem me feito perceber onde mudei, agora ele tem me ajudado a perceber onde ainda sou igual.
Li algo de Caio Fernando Abreu que dizia sobre a pena de se ter aprendido a amar menos e a deixar de ter tanta ingenuidade, mas que de certa forma aquilo tudo era bom pois não se pode assim ser para o resto de toda uma vida.
A gente evolui, a gente cresce, a gente vive. A gente vive por muito tempo exageradamente, alguns chegam na moderação e tem aqueles que uma hora só sobrevivem. Um dia eu tive tanto orgulho de ser como eu era, de pensar como eu pensava, de ter o indecifrável dom de pensar tanto em uma coisa que ela chegava a pedir folga e, mesmo assim, quando achava que o trabalho naquela coisa tinha sido terminado e ela estava liberada do pensamento para ser executada, eu no momento final me decidia por realizá-la da maneira como bem entendesse e achasse oportuno na hora. Hoje talvez eu pense diferente. Sinto que penso, sinto que ajo de outra forma, mas se quando meu amanhã for hoje, talvez eu já vá pensar igual.
E no meu hoje de hoje, eu percebi uma coisa que não mudou em mim. O bem querer. Ou o querer bem. Sabe quando uma família está se mudando e todos estão loucos e atarefados tirando móveis dos lugares, encaixotando inúmeros livros infantis, corporativos e de auto-ajuda e há aquele filho que persiste em sentar no sofá e não sair dali até que lhe dê a vontade de fazer isso? Então, esse meu filho teimoso hoje eu apelidei de bem querer. Porque hoje eu quero, quero muito. Mas mais do que querer, eu quero bem. Eu lhe quero bem, eu lhe quero o melhor, eu lhe quero até mais do que eu mesma se for isso tudo aquilo que merece. E eu não consigo sair desse ponto. Acho bom, acho lindo, dá vontade de sorrir com aquele olhinho que aperta um pouco e brilha que é uma beleza. Mas também acho um pouco melancólico, porque quero bem, quero muito e quero pra mim também. E não sei em que parte da história esses dois pontos se coincidem e se fazem harmoniosos dentro da minha cabeça. Pois é, só da minha cabeça... Não se consumiu por inteiro, engraçado né? Atitude realmente inesperada vindo de mim... Essa parte acho que é aquele outro filho que no princípio se entristeceu da mudança, mas agora está tirando os móveis do seu quarto pensando em como rearrumá-los na casa nova. Novinha. Em folha, em fala, em pensamento.

Nenhum comentário: