sexta-feira, 26 de março de 2010

"Mas por hoje não me peça um sorriso..."

Um ano. Há um ano eu a conheci. Tinha avisado que pensava em nos visitar, mas aí se decidiu por ir embora e retornou após algum tempo com notícias de que estava por perto. Mas, por não saber exatamente a data em que seu vôo sairia ou quando teria dinheiro para bancar uma viagem (afinal, eu não sabia de onde ela iria vir, onde ela morava ou se estava vindo de uma outra parada), chegou repentinamente numa manhã do dia 27 de março de 2009.
Ela me emocionou. Me deixou aos prantos, desolada, inconsciente. Por culpa dela eu mexi em cadáveres, cuidei de quem cuidou de mim por muito tempo, não dormi por noites inteiras, rezei por meses e acendi incensos em busca de paz.
Ela se foi e, apesar de não ter me dado bem com ela e nem esperar que ela ficasse mais, levou consigo um amor e deixou aqui uma saudade. E mais que uma saudade, deixou aqui uma união, um afeto que tinha sido adormecido e o sorriso de crianças pro meu coração.
Por fim, acho que depois de tanta enrolação, ela veio na hora certa. Fez a sua parte, terminou com uma doença que não coube a mim achar culpado, deixou uma ferida que se cicatrizaria lentamente, mas de forma serena e compreensiva.
Em diversos momentos me pego pensando quando ela virá nos visitar novamente.Parece que tem mandado seus sinais por muito tempo já e, mesmo nós aqui, estamos esgotados. Esgotados porque quando algo está errado e lhe dizem que irão consertar mas sem data estipulada, você espera. Como um armário que não fecha suas portas. Ao saber que irão consertá-lo, você espera pelo marceneiro. Se demorar muito você até esquece, deixa aquela porta aberta e nem liga mais. Mas vira e mexe, na correria que essa vida tem, você bate com a ponta do seu dedinho do pé nela e se lembra daquela maldita visita que o marceneiro faria há algum tempo atrás. E é isso que ela tem feito por muito tempo. Só que ela tem avisado que vem, mas não vem consertar nada. Vem levar embora aquilo que já se está desgostoso por aqui. Mas não se engane, não é tão fácil assim. Ninguém viaja tanto a troco de nada. Como pagamento ela deixa por aqui alguma contas. Tristeza, saudade, dor... São algumas delas. Mas eu sei, por já conhecê-la, que no final ela nos deixa alguma coisa boa. E por este fato eu ás vezes me pego desejando que ela venha logo.
Se eu me sinto mal com isso? Me sinto péssima. Mas eu espero que não vejam como maldade ou falta de coração, eu só peço descanso à todos aqueles que o merecem... Que haja paz ao fechar os olhos. Principalmente para aqueles que não se abrirão mais.




Kyoko, por tudo que plantou, muito amor; Odi, por tudo que viveu, a paz virá.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Dever de casa para os próximos anos da vida: cultivar a irresponsabilidade, deixar a filosofia descansar e resolver se equilibrar na dualidade ou deixar a corda te derrubar para um dos dois lados, ficar em cima do muro já não será mais aceitável;
evitar ao máximo as consequências da vida que podem ser descartadas, como olhos inchados, cansados e demasiadamente salinos, rostos cansados, olheiras profundas, músicas desgostosas, dias sem canto, noites sem sonhos, dias sem sonhos, noites sem sono, dias sem sono. E, caso todos os itens citados anteriormente fatalmente ocorram, que se saiba explicar o motivo pelo qual estes lhes honram.
Conferir leveza à massa densa da vida, bater a minha clara até ela ficar em ponto de neve, branquinha, levinha e delicada... Sentir o cheiro da conquista diária e saber apreciá-lo sem tentar descobrir qual será a fragância que exalará a batalha de amanhã, saborear o gosto doce da felicidade assim como se sente profundamente o gosto amargo dos problemas, saber sentir o amor... E saber sentir o amor.
Ah! Por último e definitivamente não menos importante: esquecer o medo de... o medo... Aliás, que medo?

sábado, 6 de março de 2010

Carta para quem passou...

Eu estar escrevendo para você depois de quase dois anos te espanta? Não sei explicar, tu me veio a mente e então resolvi te escrever um punhado de palavras que talvez nem irão fazer sentido pra ninguém a não ser a mim mesma.
Como você tem estado? Ás vezes me pego pensando em você, em tudo o que você pode estar fazendo de errado por aí e quantas dores ainda te assolam quando você vai pra casa. Não tenho mais aquele sentimento de tristeza quando tu me vem em mente, ou a vontade de cuidar de alguém pra tentar sanar alguns defeitos passados. Eu tenho quisto cuidados, acredita? Eu, que nunca me dei ao luxo de deixar alguém cuidar de mim, beijar a minha testa e fazer eu me sentir sem as mãos no volante, tenho quisto desesperadamente aprender a ser assim. E eu ando com um medo horroroso da vida. Um medo de tudo isso que está mudando se tornar a coisa mais feia e confusa que eu já pude ser.
E você esperava o que de mim? Uma coragem ínfima de viver, de fazer o que desse na telha como quem prova que a juventude é a época mais bela, fugaz e estúpida de todas, que eu quero consumar toda a minha vida de uma vez sem pensar no amanhã? É, eu sei, quando se trata dessas coisas sempre me vem uma vontade de ser uma dessas pessoas inconseqüentes que preferem tapar os olhos pro futuro a qualquer custo... Assim como você é, isso mesmo. Mas pra mim isso soa tão frágil, sabia? Um dia eu te admirei acho, quis agir assim como você age, mas não dá... Não sei se você me entende, simplesmente não dá. Ou eu sou forte, ou eu sou fraca demais pra isso... Mas eu nunca fui previsível, não é mesmo? Ultimamente eu tenho acordado diferente todos os dias e com uma capacidade de oscilar incrível, você que um dia me conheceu doce e cuidadosa e depois me viu desbocada e sedenta entenderia o que eu quero dizer se colocasse tudo o que nos aconteceu dentro de um período de três dias. Pois é, imagina a loucura que eu ando vivendo dentro de mim. E as pessoas ainda têm me cobrado sair pra encher a cara, dançar a noite toda e conhecer pessoas que irão fingir estarem interessadas no que você diz só pra tentarem te comer no final das contas. E eu ando tão carente de atenções. Daquela atenção besta, de alguém que te procura só pra saber como você está, como anda a vida... Eu tenho passado por muitas situações diferentes, sabe, tenho tido muito o que contar e pouca gente pra me ouvir... Mas sei lá, é da vida, eu nessa de aprender a precisar dos outros não consigo entender de onde vem toda essa minha nova fragilidade.
Mas enfim, eu vou terminando por aqui. Só lhe escrevi porque achei que seria benéfico para mim, mas se quiser responder e me contar como anda tudo do seu lado do mundo, eu teria a honra de ler. Acho que por fim eu vou aceitar aqueles convites pra sair a noite e esvaziar um pouco a cabeça. De qualquer modo estar sozinha com um monte de gente acho que será mais fácil do que estar sozinha comigo mesma, eu tenho sido um real perigo à minha sanidade mental e, uma coisa eu lhe digo: mais louca eu não fico!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Faz-se carreto.

O tempo pra mim não é um só. Ele é feito de vários tempos e assim como pedacinhos retalhados de papel, cada um tem seu tamanho. E não é engraçado o que o tempo faz? Ele passa e a gente nem o vê, mas está sempre pesando em tudo o que acontece conosco... Dizem, desde os que usam os termos mais complexos até os mais clichês que o tempo cura tudo. Eu não sei se cura, mas que ele tá ali, inserido em algum lugar da fórmula do remédio, ele tá.
Os tempos têm feito descobertas magníficas em mim, ultimamente. A mais nova se utilizou de um tempinho, de um pedacinho quase insignificante de tempo, mas ela veio de um tamanho tão enorme que a maioria das pessoas não acreditariam que esse tempinho conseguiu carregar uma mudança tão grande nas costas.
E engraçado que, assim como o tempo tem me feito perceber onde mudei, agora ele tem me ajudado a perceber onde ainda sou igual.
Li algo de Caio Fernando Abreu que dizia sobre a pena de se ter aprendido a amar menos e a deixar de ter tanta ingenuidade, mas que de certa forma aquilo tudo era bom pois não se pode assim ser para o resto de toda uma vida.
A gente evolui, a gente cresce, a gente vive. A gente vive por muito tempo exageradamente, alguns chegam na moderação e tem aqueles que uma hora só sobrevivem. Um dia eu tive tanto orgulho de ser como eu era, de pensar como eu pensava, de ter o indecifrável dom de pensar tanto em uma coisa que ela chegava a pedir folga e, mesmo assim, quando achava que o trabalho naquela coisa tinha sido terminado e ela estava liberada do pensamento para ser executada, eu no momento final me decidia por realizá-la da maneira como bem entendesse e achasse oportuno na hora. Hoje talvez eu pense diferente. Sinto que penso, sinto que ajo de outra forma, mas se quando meu amanhã for hoje, talvez eu já vá pensar igual.
E no meu hoje de hoje, eu percebi uma coisa que não mudou em mim. O bem querer. Ou o querer bem. Sabe quando uma família está se mudando e todos estão loucos e atarefados tirando móveis dos lugares, encaixotando inúmeros livros infantis, corporativos e de auto-ajuda e há aquele filho que persiste em sentar no sofá e não sair dali até que lhe dê a vontade de fazer isso? Então, esse meu filho teimoso hoje eu apelidei de bem querer. Porque hoje eu quero, quero muito. Mas mais do que querer, eu quero bem. Eu lhe quero bem, eu lhe quero o melhor, eu lhe quero até mais do que eu mesma se for isso tudo aquilo que merece. E eu não consigo sair desse ponto. Acho bom, acho lindo, dá vontade de sorrir com aquele olhinho que aperta um pouco e brilha que é uma beleza. Mas também acho um pouco melancólico, porque quero bem, quero muito e quero pra mim também. E não sei em que parte da história esses dois pontos se coincidem e se fazem harmoniosos dentro da minha cabeça. Pois é, só da minha cabeça... Não se consumiu por inteiro, engraçado né? Atitude realmente inesperada vindo de mim... Essa parte acho que é aquele outro filho que no princípio se entristeceu da mudança, mas agora está tirando os móveis do seu quarto pensando em como rearrumá-los na casa nova. Novinha. Em folha, em fala, em pensamento.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Bem-vinda, mudança!

Hoje não há devaneios. Não tem eu lírico boêmio, palavra de poeta morto ou muito menos concepções devastadoras sobre quem se é, o que se quer e o que é coerente fazer.
Quase um mês. Um mês diferente. Um mês que passou voando mas que ao mesmo tempo trouxe mudanças que refletirão por muito tempo, quem sabe por uma vida inteira...
Pela primeira vez na minha vida eu não tenho me prendido à crenças, entregue nas mãos de qualquer força superior ou me posto em situação de espera quando as coisas pareciam confusas demais. Resolvi que para escrever a minha história, só serão usadas as palavras que eu quero. Hesitei, hesitei muito. Pensei em fugas de mim mesma, busquei caminhos alternativos que não me fizessem indagar tanto sobre tudo que estava acontecendo.
E acho que a grande culpada de tudo isso é a mudança. Mudar é uma coisa forte, às vezes é reflexo de muitos anos, às vezes ela parece que nunca chega e, às vezes você se coloca em stand by por tanto tempo que só quando tudo ao seu redor muda, você percebe que mudou também.
Cheguei a pensar que o nome pra tudo isso é crescer, mas acho que seria muita pretensão da minha parte dizer que cresci, soaria até mesmo como uma auto-promoção.
Eu sei exatamente os pontos nos quais eu mudei e, até poderia citá-los aqui, mas acho-os pessoais demais para se expor sem ser atrás de um eu lírico choramingão (é, talvez esse seja um ponto que eu ainda não tenha mudado).
Me perdi em um mundo novo e revi muitos sentimentos que haviam se distanciado, encontrei a ansiedade no início, parei pra conversar com a euforia por um bom tempo, esbarrei com a confusão e com a tristeza por umas inúmeras esquinas também, é verdade... Mas agora acho que meu caminho tá reto, tá seguindo rumo ao meu futuro e enquanto ando tenho visto as paisagens que eu esperava e sempre quis encontrar. Meu coração tem batido mais forte e revigorado, tem parado de sair do seu ritmo ou até mesmo do meu, minha cabeça não anda mais vazia, isso devo confessar, mas meus pensamentos acho que se auto-adestraram e resolveram se posicionar de modo que eu possa encontrá-los quando bem quiser e adormecer aqueles que teimam em querer aparecer no momento inoportuno.
E se for esse ritmo que eu irei seguir pro resto da minha vida ou pelo menos enquanto deixo meus sonhos perderem esse nome, eu me sinto aliviada. Deve ser por isso que tanto aconteceu de repente. Se ver na situação a qual você almejou por tanto tempo acontecendo, torna tudo tão simples que eu na minha fúria incontrolada por oscilações existenciais não soube lidar muito bem de início. Até eu perceber que tudo isso é só o começo, que a complicação ainda está por vir...
Mas eu estou tranquila, não esquento a cabeça agora não. Sempre tive muito pra doar, sempre quis me encher enquanto esvaziava o que em mim habita de uma forma não tão racional, mas verdadeira. E hoje eu me vejo na situação mais bela e egoísta que já vivi: tenho dado todo amor, toda a paixão que poderia ter à mim mesma, ao meu presente e, principalmente, à tudo aquilo que eu sei que, pode estar longe, mas que um dia fará parte do que eu sou e vice-versa.
E me atrevo de uma forma quase mal-educada a fazer referência mas mudando as visões a uma frase do Caio Fernando Abreu: Cuidado comigo. Um dia eu encontro.
Sei que não foi o texto mais literário que posso ter escrito, mas é um dos quais eu terei mais orgulho de reler daqui há um tempo, tenho certeza disso.