domingo, 19 de julho de 2009

Meu romance mal escrito.

Dia após dia, noite após noite, tecem-se em mim enredos que se emaranham entre si, formando uma rede de pensamentos incapaz de se dissipar. Eu poderia dizer que as coisas andam muito confusas, mas as coisas sempre foram muito confusas. Deve haver, escondido em algum lugar do meu espaço-tempo de vida, uma fórmula que resolva tudo isso, um produto químico que seja capaz de limpar toda minha mente, deixando ela branquinha e brilhante, sem toda essa sujeirada que se encontra aqui. Não tenho intenção de me tornar alguém equilibrada ou ter a paz espiritual dos monges tibetanos, devo até confessar-lhes que tenho certo apreço por toda essa tempestade de idéias insensatas que me consomem diariamente, pois por muitas vezes elas me trazem benefícios inimagináveis quando se trata de ter algum tipo de emoção na vida, mesmo que seja uma emoção solitária, mas às vezes sinto algo me pedindo um tempo de mim mesma, de toda essa turbulência que se causa dentro de mim.
E o que mais me incomoda é saber que toda essa confusão afeta-me completamente, pois se não há clareza nos fatos que ocorrem dentro de mim, não há possibilidade de alguém de fora conseguir entender. É como um belo livro de capa dura, com seu título escrito caprichadamente em letras garrafais na frente, que contém dentro páginas e mais páginas de escritas preciosas, mas estas se encontram apagadas pelo tempo ou manchadas por alguma chuva que caiu sobre o livro e borrou sua impressão. É nítido que o livro existe, pois ele está lá, mas se torna indecifrável qualquer coisa que nele esteja escrito, já que suas páginas estão confusas, deixando o leitor incapaz de entender sua trama ou opinar se gosta ou não do que ali está escrito.
Até dado momento o meu livro está um pouco assim. Ainda não possue marcas do tempo, mas certamente gotas de água salina provenientes de saudades, tristezas, amores, dores e alegrias que se formaram ao longo do tempo e caíram sobre suas páginas, tornando algumas histórias impossíveis de se ler, ou até mesmo inacabadas. Às vezes desconfio de que muitas pessoas que já tiveram em suas mãos o meu livro, apesar de não terem opinado sobre o que pensaram dele, atreveram-se a rabiscá-lo em algumas folhas, pois há tantos pensamentos confusos escritos nele, que não creio que eu teria sido capaz de escrever uma história tão incerta sozinha.

Um comentário:

Walter Andrade, disse...

"qualquer canto é menor (cabe também melhor) do que a vida de qualquer pessoa", sabe aquela música de Blechior que a Elis Regina canta? Sempre que eu paro pra pensar nessas coisas da minha vida, eu lembro dela, e realmente é impossível alguém imaginar ou entender a cabeça de outra pessoa, e até a nossa, porque muitas e muitas vezes a gente não sabe se quer algo por que quer, ou porque deve querer, né? E você tem uma pegada muito Clarice Lispector, se desenvolver a filosofia e a metafísica daquela mulher, te peço em casamento. HAUIEHAUOIE brinks.

:*