*post original de Pela Memória do Gosto, publicado em 23/07/2012.
É sempre assim. Parece que mulher gosta de viver na roda gigante, saindo lá de baixo para ir até o topo e voltar ao lugar pé no chão sem grandes paisagens admiráveis. Nunca aprende a dar ponto com nó, a alcançar o tão sonhado equilíbrio e a tal da paz de espírito.
Era em um desses momentos que se via. Estava doida pra sair daquele ponto, realidade mirradinha, os pés enraizados ao solo de concreto infértil, vendo-se gorda e incapaz. Porque termômetro de mulher pra mudança é quando se sente gorda e incapaz. Quando a gente consegue sentar-se no sofá depois de uma quarta-feira de trabalho e comer qualquer coisa que ultrapasse as 200 calorias sem culpa nenhuma ou sem ao menos verificar se aquilo tem 200 calorias e DEPOIS ir jantar, é porque estamos lá embaixo na roda-gigante, todas dividindo a cabine mais perto do chão de todas. Aquela que nem subir consegue por causa do peso. Nos esmagando lado a lado com a numérica circunferência de nossas bundas gordas.
Precisava reciclar-se. Comprar roupas, trocar a cor e o corte do cabelo, gastar rios de dinheiro com maquiagem e, depois, sair na rua pra ouvir caminhoneiro assoviar e gritar "Gostosa!. Mas não adiantava. A bunda continuava gorda. Sabia que estava naquele ponto, no ponto em que o espelho parece ser seu pior inimigo, andando atrás de você e lhe xingando o dia todo, enquanto a balança vem logo atrás gargalhando do balancê das suas nádegas flácidas enquanto você foge da realidade. Péssimamente pesado.
Queria ser leve. Precisava flutuar de leveza, igual às mulheres que comem salada o dia todo, fazem yoga e andam com o frasquinho de água termal para borrifar em suas peles lindas e ruborizadas de saúde. E enquanto usam algum desses absorventes milagrosos que passam no intervalo da novela, fazendo as mulheres flutuarem até naqueles dias. Bem na hora que você está comendo a oitava fatia do bolo de rolo que a tia Maria trouxe de nordeste especialmente pra gordinha da família, dizendo "Ai, trouxe pra você, sei que adora doces!".
Não conseguia esse equilíbrio. Sua idéia de felicidade plena incluia uma dieta onde fosse possível comer de tudo sem depois ficar ao menos meia hora sentada com o olhar vago e a mente fixa na idéia de que podia ter maneirado na comilança. De que adiantava a vida sem os sabores da alegria?
Mas precisava mudar. Era a única mudança que lhe cabia naquele momento, as outras estavam lhe apertando a cintura. Sabia que conseguia, era uma dessas pessoas radicais. Que quando colocam em mente um plano, vão com ele até o fim. Ou até o próximo pedaço de torta de damasco. Só um pedacinho, metade da fatia, não vai fazer mal.
Então estava decidida. Daqui pra frente, carboidratos só até as 18h00, muito chá verde, salada de pepino e suco de clorofila. Doces nem pensar, a refeição da noite estava suspensa. Se sentisse fome, que bebesse água, ajuda a enganar o estômago dramalhão.
Mas hoje é quarta-feira. Não se começa dieta em meio de semana, não dá certo, atrapalha toda a logística. Deixa pra semana que vem. Qual vai ser a sobremesa pra depois do jantar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário