Cria-me neste mundo, faz de cada pedaço de minha carne um relapso bonito de imaginação proveniente de teus lindos olhos.
Porque teus olhos não te obedecem. Tão sedentos, estão loucos para profetizar aquilo que o teu mundo te proporciona como verdade, a verdade na qual queres encaixar-me. Na qual eu não encaixo-me. Talvez o único lugar do mundo onde eu não me adaptaria. De onde eu jamais pertencerei.
Mas é teu mundo, o que poderia eu fazer? Cada pedaço construído, cada argamassa que sustenta o todo veio de ti, veio da tua magnitude esforçada. Quem sou eu, mero mortal, defeituoso, torpe e humano demais? Quem sou eu para criticar tua fábula inversa, onde os humanos caracterizam-se por agirem como animais vorazes e famintos? Minha grandiosa fragilidade não saberia sobreviver em meio a este caos, onde cada árvore que cresce deve ser podada, cada estrela que irradia deve ser apagada à qualquer custo. Mesmo que apenas para teu pequenino e exclusivo mundo.
Então cria-me neste mundo. Como algo horroroso, capaz de ameaçar gigantes, de acabar com tua insegurança desfarçada. Enalteça-me como se tua intenção fosse, na realidade, ferir-me por não ser tão singular. Veja tamanha reação inversa, veja meu mundo tornando-se mais florido. Dentro do teu mundo.
Meu ego faminto agradece.