E é isso. Tomo posse de tuas palavras. Aliás, de teus pensamentos, porque apesar de não pronunciares tais fatos, eu sei que é isso. Sei que iremos nos envolver em tudo isso, nessa história de beijos e abraços que me afogam sem piedade e sem pudor, mas que por fim não nos levarão a lugar algum.
Então demonstra-me teu último gesto de carinho. Pois sei que essa imensidão toda por ti permanecerá pra sempre. Mas que encontrar-me em paz enquanto me abraças na tentativa de proteger-me do mundo nunca mais ocorrerá. Nunca ocorreu.
A gente só precisa de paz, entendeu?
Porque sei que enquanto meu coração se contrai loucamente, na tentativa de encolher-se e não mais ser maltratado, tu se vais. E me deixa com esse sorriso insensato pairando pela alma, porque de todo o meu esforço em fazer-te entender o que aqui ainda habita, a única parte que possivelmente tocou-te foi se toda aquela história cósmica sobre o destino chegou até teus ouvidos, sussurrando meu nome, ou ao menos o ruído de uma risada que certo dia demos juntos.
E então vai-te com serenidade. E espero que leves contigo esse meu último gesto de afeto, esse meu beijo na testa, esse sorriso final.
Porque de ti, por mais que não demonstres, posso sentir teu beijo apressado com o corpo já indo embora, como quem tem muito a fazer e pouco tempo para esperar pela vida, soltando minha mão devagar como num gesto que me diz "adeus e, obrigado por um dia ter me amado".