terça-feira, 21 de julho de 2009

As Cores da Cidade Cinza.


São Paulo, 15 de janeiro de 2001. Olhando por cima dessa cidade cinza ele estava. Via as janelas iluminadas pelas luzes dos televisores, das lâmpadas caras das salas de jantar e dos monitores dos pcs. De lá de cima do terraço do seu prédio via os carros parados nas ruas, as pessoas entrando nas conduções cada vez mais apressadas para conseguirem ir para seus lares e outras saindo para buscar diversão e o entretenimento que queriam. E ele lá, inerte, observando tudo com a calma que lhe era caracteristica e analisando aquele monte de formiguinhas entrando e saindo dos lugares, andando num tráfego completamente desordenado, ao mesmo tempo parecendo ter um rumo completamente definido. Tentava cada vez mais ver ao longe, ver cores que não podia perceber se ficasse olhando apenas para baixo, ver uma cor nova, desconhecida para ele que, como os esquimós do Alaska que conseguem diferenciar vários tons de branco por só verem gelo e neve compondo a paisagem do habitat deles, via vários tons de cinzas e pretos.

Não havia como não pensar na solidão. São Paulo era assim, cheia de pessoas solitárias em meio a multidões. Poucos eram aqueles sortudos que, diante daquela imensidão cinza encontravam uma alma radiante, com um toque avermelhado, amarelo ou azul clarinho. Melhor dizendo, poucos eram os que conseguiam achar alguém que tinha nos olhos a cor exata que sempre procurou, um tom que lhe desse aconchego no momento em que se troca um olhar. Até porque, com tanta correria, compromissos e atrasos, as pessoas acabavam se esquecendo de procurar pelas cores certas, pensou ele.

Nunca soube bem se existiam as pessoas certas, mas sabia com certeza que as cores deveriam bater. Sabia bem que certamente, quando as pessoas se encontram e se dão logo de cara, elas tinham as cores parecidas. As vezes era a mesma cor, mas não no mesmo tom. Quando era assim, era possível pensar em algo mais que somente aquela amizade que cresce a cada dia. Quando as cores são parecidas desse jeito, ou até mesmo iguais, é amor. Só achava difícil falar sobre o amor. O encontro das duas cores. Não pensava que tinha encontrado a cor que lhe encantava. Por isso olhava ao longe. Queria achar essa cor, a cor que faria seus olhos brilharem de um jeito que não poderia ser ofuscado pelas luzes da cidade.

Sempre se manteve calmo, é verdade, mas às vezes não saber como lidar com o amor lhe deixava um pouco frustrado. E se toda aquela teoria das cores fosse equivocada? Tinha certeza que amar era bom, afinal todos aqueles que amam parecem ter uma cor mais radiante do que o tom de cinza mórbido que se espalhava pela cidade e isso era um sinal de felicidade, acreditava. Mas como podia ser tão difícil encontrar alguém com a sua cor? Vermelho, azul, verde, roxo... Pra falar a verdade não tinha idéia de qual a cor que se via dentro dele próprio, mas tinha certeza que descobriria no momento em que olhasse nos olhos daquela que lhe mostraria o que de tão bom havia em se apaixonar.

Apenas não tinha certeza de quando iria encontrar a dona da sua cor. Se seria na primeira esquina em que virar no caminho de casa para o trabalho, quando descesse do terraço e olhasse nos olhos da menina do elevador ou num dia qualquer andando por ai. Só sabia que quando chegasse, ele saberia. E saberia que seria um dia diferente de qualquer outro. Seria um dia bem mais colorido.


JULIA E RODRIGO.

domingo, 19 de julho de 2009

Meu romance mal escrito.

Dia após dia, noite após noite, tecem-se em mim enredos que se emaranham entre si, formando uma rede de pensamentos incapaz de se dissipar. Eu poderia dizer que as coisas andam muito confusas, mas as coisas sempre foram muito confusas. Deve haver, escondido em algum lugar do meu espaço-tempo de vida, uma fórmula que resolva tudo isso, um produto químico que seja capaz de limpar toda minha mente, deixando ela branquinha e brilhante, sem toda essa sujeirada que se encontra aqui. Não tenho intenção de me tornar alguém equilibrada ou ter a paz espiritual dos monges tibetanos, devo até confessar-lhes que tenho certo apreço por toda essa tempestade de idéias insensatas que me consomem diariamente, pois por muitas vezes elas me trazem benefícios inimagináveis quando se trata de ter algum tipo de emoção na vida, mesmo que seja uma emoção solitária, mas às vezes sinto algo me pedindo um tempo de mim mesma, de toda essa turbulência que se causa dentro de mim.
E o que mais me incomoda é saber que toda essa confusão afeta-me completamente, pois se não há clareza nos fatos que ocorrem dentro de mim, não há possibilidade de alguém de fora conseguir entender. É como um belo livro de capa dura, com seu título escrito caprichadamente em letras garrafais na frente, que contém dentro páginas e mais páginas de escritas preciosas, mas estas se encontram apagadas pelo tempo ou manchadas por alguma chuva que caiu sobre o livro e borrou sua impressão. É nítido que o livro existe, pois ele está lá, mas se torna indecifrável qualquer coisa que nele esteja escrito, já que suas páginas estão confusas, deixando o leitor incapaz de entender sua trama ou opinar se gosta ou não do que ali está escrito.
Até dado momento o meu livro está um pouco assim. Ainda não possue marcas do tempo, mas certamente gotas de água salina provenientes de saudades, tristezas, amores, dores e alegrias que se formaram ao longo do tempo e caíram sobre suas páginas, tornando algumas histórias impossíveis de se ler, ou até mesmo inacabadas. Às vezes desconfio de que muitas pessoas que já tiveram em suas mãos o meu livro, apesar de não terem opinado sobre o que pensaram dele, atreveram-se a rabiscá-lo em algumas folhas, pois há tantos pensamentos confusos escritos nele, que não creio que eu teria sido capaz de escrever uma história tão incerta sozinha.